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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Viver na presença de Deus

Hoje, navegando pelo Facebook, encontrei uma publicação do amigo Eduardo Hennerich em seu blog que me inspirou a escrever algumas palavras por aqui.
No texto, ele cita uma bela frase do grande filósofo do século XVIII Jean Jacques Rousseau: "conservai a vossa alma em estado de dizer sempre que há Deus, e nunca duvidareis da sua existência".
Estas palavras, apesar de simples, nos conduzem a uma reflexão deveras profunda, dependendo da análise feita. Gostaria de me desdobrar aqui, brevemente, e tentar discorrer sobre alguns pontos que podem (e devem) ser levados em consideração, ao menos, por um cristão.
"Conservai a vossa alma em estado de dizer sempre que há Deus". Aqui encontramos palavras que se complementam e reforçam-se mutuamente: "conservai" e "sempre". Obviamente, Rousseau fala de um estado de permanência ao considerar que a alma deve deve dizer que há Deus: "sempre há Deus".
Primeiramente, devemos nos ater ao conhecimento de Deus. Ora, como diz o adágio popular: "ninguém ama o que não conhece" e, para dizer que sempre há Deus, é necessário conhecê-Lo.
Tal processo pode parecer muito fácil descrito desta maneira mas, como sabemos, é um grande mistério o conhecimento de Deus, sobretudo por ser Ele um ser soberano, a plenitude do ser, e que somos limitados (como criaturas). Por isso não podemos conhecer plenamente a Deus.
Entretanto, como já nos dava o exemplo Santo Agostinho de Hipona, devemos nos empenhar em buscar o Senhor, e ele, inclusive, já dá a dica: só podemos conhecê-Lo a partir do nosso interior. Santo Anselmo de Cantuária, baseando-se em Agostinho, dizia que é necessário que entremos no mais profundo, nos recônditos de nossa alma, levemos junto apenas aquilo de que precisamos para encontrar a Deus e fecharmos as portas (cf. Proslogion). Ali é que vamos encontrá-Lo. Entretanto, voltando para o bispo de Hipona, conhecemos a Deus procurando no interior, no mais íntimo do íntimo (daí a célebre frase de Confissões X, XXVII, 38: Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro de mim e eu fora [...] Tu estavas comigo e eu não estava contigo"). Para Agostinho chegar a essa conclusão, foram necessários anos e mais anos de vida e de experiência, de conversão, de busca, de reflexão... Foram anos difíceis, foi uma busca difícil, como a nossa é, mas ele conseguiu encontrar (bem como outros na história e, mesmo, hoje, dos quais temos os testemunhos).
Como Anselmo aborda no já citado Proslogion, há questões que se devem conhecer racionalmente (sobretudo para que não se cometam enganos de interpretação), mas há, também, paradoxos, que, como nos afirma o santo, só podem ser entendidos à luz da Revelação (mais especificamente, Sagradas Escrituras e Sagrada Tradição) e as Escrituras nos orientam de maneira perfeita rumo ao conhecimento divino.
Aqui é onde reside o problema: para que se conheça a Deus, é necessário que se conheça bem as Escrituras e o Testemunho Apostólico. Entretanto, tal conhecimento falta em muito na vida das pessoas, de um modo geral, ou por falta de formação, ou por ignorância que, convenhamos, é uma realidade muito evidente e que está muito presente na vida do mundo.
Quanto a isso, só posso citar o Evangelho do 21º Domingo do Tempo Comum, ano B, que celebramos há algumas semanas, onde Jesus exorta com veemência na sinagoga de Cafarnaum a todos os que ali se encontravam (de discípulos a mestres da lei), dizendo o que deveria ser feito para que se alcançasse a salvação. Muitos, entretanto, ficaram espantados e acharam que aquela palavra era dura demais para ser ouvida...
Jesus, entretanto, pergunta: "Isto vos escandaliza?" (Jo 6,61) e completa: "O espírito é que vivifica [...] As palavras que vos tenho dito são espírito e vida" (Jo 6, 63). Mesmo assim, muitos deixaram de segui-Lo a partir deste momento, pois acharam que não seria possível viver daquela maneira. Então, Ele se volta para seus apóstolos e pergunta se eles também não irão querer debandar, ao que respondem: "Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna! E nós cremos e sabemos que tu és o santo de Deus" (Jo 6, 68-69).
A situação em que vivemos nos conduz, quase que automaticamente, a nos colocarmos em retirada da presença de Deus, esquecê-Lo, juntamente com grande parte dos que estão à nossa volta, dizendo que a exortação e o chamado que Ele nos faz são duros demais para se ouvir e viver. Aqui perguntamos: "isto vos escandaliza?", então podeis ir embora com os outros todos que simplesmente rejeitam a missão a que foram enviados e negam que há Deus, pois negar o Seu projeto é negá-Lo!
Ao contrário da grande maioria, somos convidados a abrir os nossos corações e acolher a Palavra do Senhor, por mais dura que possa parecer, afinal, tudo o que temos e fazemos é para a Sua glorificação e nada podemos sem o seu patrocínio: somos levados a repetir o que disse Pedro, afirmando que somente em Deus é que encontramos a vida eterna e reconhecer que Cristo é o Santo de Deus. Foi justamente isso que fez Santo Anselmo, ao afirmar que a razão tem um limite que só pode ser superado pela fé.
A palavra do Senhor nos é dura? Eu digo que na maioria das vezes é, mas precisamos nos lançar inteiramente no Seu Amor e nos deixar conduzir pela sua graça, afinal, é a única coisa que o próprio Deus diz que nos basta, através de São Paulo (2Cor 12,9).
Diante disso, nos deparamos com uma questão muito evidente: o pecado. Como me entregar ao amor de Deus se o pecado me derruba?
Aqui não devemos pensar na queda, mas sim no levantar-se, em Cristo, como novas criaturas. O que fez aquela multidão se afastar das palavras de Jesus na sinagoga de Cafarnaum foi justamente o reconhecimento da sua miséria e a falsa impressão de que não poderia levantar-se. De fato, não conseguiram. Com efeito, só é possível vencer o mal apoiados em Deus, ou seja, aqueles que ficaram, reconheceram que eram limitados, pecadores, mas deixaram-se tomar pela graça divina e levantam-se todos juntos (aqui precisamos a importância da comunidade para a vivência cristã autêntica). São pessoas determinadas, confiantes, que disseram seu sim a Cristo e não ficaram pensando nas suas misérias, pois sabiam, tinham a certeza de que não precisavam se preocupar com elas, já que estavam ao lado do protetor.
Ora, ao viver essa entrega total a Deus, não há como se negar a presença dEle e nEle, ou seja, é uma presença contínua, sem fim, para sempre, é a certeza de que só assim é que se pode viver alegremente. Tal estado de espírito nos leva, automaticamente a reconhecer a cada momento que tudo o que acontece vem de Deus, foi feito por ele.
Todo esse processo se faz necessário para que se conheça, da forma mais correta possível, a Deus. A partir de tal conhecimento, automaticamente, se proclamará que Ele é o único que pode trazer a alegria, a salvação.
Levando-se em consideração que quem conhece é a alma (uma concepção geral na filosofia), se ela conhecer a Deus, não poderá dizer que não há esse Deus, pois estará criando uma contradição em si.
Assim, voltamos à frase de Rousseau: "conservai a vossa alma em estado de dizer sempre que há Deus, e nunca duvidareis da sua existência". É necessário que conservemos nossa vida, nossa alma, de acordo com o que nos diz o próprio Senhor. Dessa forma, diremos que sempre há Deus e, decorrente disso, nunca duvidaremos de sua existência. Percebam que esta segunda parte vem justamente para justificar a primeira, é como que um resumo de tudo o que foi descrito acima. Mais do que uma simples consequência da premissa anterior, é a maneira como devemos proceder.

Espero ter ajudado um pouco. Já há um bom tempo vinha pensando no assunto e só esperava a oportunidade específica, o kairós, para poder publicar.

A publicação do blog do Eduardo pode ser encontrada no link: http://pugnaspiritualis.blogspot.com.br/2012/09/2-nao-deus.html

Cordialmente,
Paz e Bem!

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